sábado, 27 de fevereiro de 2010

Não sou mais criança, não consigo chorar


Ao ver hoje, na missa, aquele miúdo a chorar, soluçar de tantas lágrimas, tive noção da falta que fazes a toda a gente. Aquela criança, de um lindo nome, Quaresma, que deve ter mais ou menos sete anos, fez o que quase toda a gente tem medo de fazer: CHORAR. Chorar em público para que o mundo veja a falta que fazes. Ele chorou, sofreu e irá continuar a sofrer é essa a realidade. O pai disse “ele gostava muito do Miguel” e eu lembrei-me “eu também gostava, podia não parecer, mas gostava, então porque é que eu não consigo chorar como ele?”. Não tenho essa capacidade de criança, talvez não consigo mais chorar, se calhar secaram-me as lágrimas, não sei. A verdade, é que não consigo expor o que sinto, às vezes nem mesmo em palavras. Acho que só hoje tive realmente noção do que as pessoas sentiam por ti. Mesmo no dia, no terrível dia, que te beijei pela última vez e vi toda a gente a chorar à tua volta não percebi o porquê, acho que estava na fase da negação, não sei. Só quando voltei novamente a tua casa e não te vi lá, e senti o peso do luto, é que percebi que afinal não era só um pesadelo, tudo aquilo era realidade. E tu, tu que tanto implicavas comigo, que tanto me espezinhavas (com todo o amor que tinhas), que me chamava “gordinha” (e eu admitia, eras o único a quem o fazia, talvez não houvesse outra solução, nunca me davas ouvidos), tu não estavas mais, não há mais o teu sorriso, os teus olhos a brilhar (com o pudim da madrinha). Mas mesmo depois de recordar tudo isto, eu não consigo chorar, estou sem lágrimas, secaram. Desculpa! Desculpa, não conseguir chorar, eu juro que tentei.

Deve ter sido o texto mais informal que escrevi, mas provavelmente o mais sentido!


Vanessa Cunha

1 comentário:

  1. É um texto muito bonito e muito , muito , muito sentido

    Beijo *

    ResponderEliminar